De que forma os julgamentos limitam nossa visão do que é possível?
- Mateus William
- 12 de mai.
- 4 min de leitura
Julgamos o clima, o trânsito, o colega de trabalho, o sabor da comida, o comportamento alheio, nossa própria performance…
Julgamos tudo o tempo todo.
E, ao contrário do que muitas vezes pensamos, os julgamentos não são simples opiniões e descrições, são declarações que constroem a realidade à nossa volta e dentro de nós.
Quando julgamos, não estamos apenas descrevendo, estamos projetando expectativas, determinando que tipo de atitude esperamos nos deparar no futuro sobre aquela pessoa/situação.
E o mesmo vale para os julgamentos que fazemos de nós mesmos.
Quem nunca disse, com convicção, frases como “eu sou tímido”, “eu não sou bom nisso” ou “eu sou assim mesmo”? Com o tempo, deixamos de ver essas frases como julgamentos e passamos a tratá-las como verdades. E esses rótulos,que vamos fazendo ou até mesmo recebendo ao longo da vida, quando não questionados, se instalam como verdades e, consequentemente, passamos a vivê-los como se fossem características fixas, imutáveis!
E aqui acontece uma das nossas grandes questões: confundimos julgamentos com afirmações. Diferente das afirmações, que dizem respeito a fatos verificáveis, quando confundimos julgamento com afirmação, abrimos mão do nosso poder de aprender. Julgamentos tomados como verdades nos colocam num lugar de resignação,mas quando os reconhecemos como julgamentos (interpretações) podemos abrir janelas para transformação.
Julgamentos não são inocentes. Eles criam efeitos concretos. Quando julgo alguém como desonesto, posso evitar negócios com essa pessoa. Quando julgo a mim mesmo como incapaz, posso deixar de tentar.
Agora imagine a sutileza de como isso acontece no dia a dia.
Suponha que uma colega sua de equipe tem se mostrado bastante retraída durante as reuniões. O julgamento imediato poderia ser: “ela é desinteressada” ou “não está comprometida com o projeto”. A partir daí, é fácil começar a tratá-la com mais distância, não considerar sua opinião ou até começar a repassar para outras pessoas o que ela deveria estar fazendo. Essa interpretação, mesmo silenciosa, cria uma barreira relacional e, com o tempo, alimenta ressentimentos de ambos os lados.
Mas pode existir um outro caminho quando entendemos que julgamentos são apenas julgamentos. Em vez de deixar que esse julgamento se instale e se torne uma verdade absoluta dentro de você, é possível interromper esse ciclo por meio de uma conversa. Você pode se aproximar com curiosidade e cuidado, expressando o que observou de forma descritiva, sem conclusões precipitadas.
“Tenho percebido que você tem falado menos nas reuniões, e fiquei me perguntando se algo mudou para você ou se há algo em que eu possa apoiar.”
Abrir esse espaço de escuta pode revelar que ela está passando por um momento pessoal difícil, que se sente insegura para contribuir ou que talvez não esteja entendendo os rumos do projeto e isso pode transformar completamente a relação.
Ao substituir o julgamento por uma escuta, você não apenas dissolve um possível mal-entendido, como também fortalece o vínculo e convida o outro a participar da solução.
O que poderia se tornar um impasse, vira uma oportunidade de crescimento.
Julgar é inevitável, mas pode (e deve) ser feito com responsabilidade, que envolve uma autoridade e fundamentação:
Autoridade
Tenho legitimidade para emitir esse julgamento? Um comentário sobre política vindo de alguém sem conhecimento no assunto não terá o mesmo peso que o de um economista experiente. E o mesmo vale no campo pessoal: a quem estamos dando autoridade para nos julgar? Pais, líderes, professores, amigos e seus julgamentos têm peso porque lhes damos esse poder e isso requer consciência.
Fundamentação
Um julgamento precisa ter base. De onde vem essa ideia? Em que ações passadas me apoio para prever comportamentos futuros? Por exemplo, ao dizer que alguém é “irresponsável”, preciso ser capaz de apontar fatos observáveis que sustentem essa conclusão e também verificar se há fatos que poderiam indicar o contrário. Sem isso, o risco de injustiça é grande.
No coaching (https://www.atmagenus.com.br/coaching), uma das nossas soluções, os julgamentos são ferramentas poderosas para compreender o modo de ser de quem está sendo acompanhado. Quando alguém diz “o trabalho é um sacrifício”, está mostrando seu olhar sobre o universo profissional e esse olhar gera certas emoções e limita certas ações.
A partir daí, é possível investigar: que explicações essa pessoa dá a si mesma? Que padrões está usando? Está confundindo julgamento com afirmação? E, sobretudo, esse julgamento está fundado?
Perguntas como “o que você quer dizer com isso?”, “onde você aprendeu que isso é assim?” ou “quais fatos sustentam essa conclusão?” ajudam o coachee a ganhar clareza e a acessar novas possibilidades de ação!
Ao perceber que somos mais do que os julgamentos que sustentamos sobre nós e sobre os outros, somos capazes de olhar, escolher, mudar e projetar futuros diferentes e, ao fazer isso, damos início a uma jornada de maior consciência, potência e autenticidade.
Margarita Morales e Regina Lazzarotto conversam sobre julgamentos no novo episódio do Atma Talks. Tenho certeza de que você vai sair desse episódio com reflexões profundas e com novas formas de enxergar (e viver) o mundo.
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